Take me Somewhere nice

Blog de um jornalista viciado em música e com paixões variáveis. Pinceladas de cinema, futebol e São Paulo podem aparecer sem aviso.

sexta-feira, março 30, 2007

Critical

Adoro ler críticas. Especialmente as negativas. Tenho que admitir que vou atrás das de uma estrela, na Folha. Quando acho uma "bolinha" (péssimo), me delicio. Veja hoje, na Ilustrada, a avaliação do novo disco do Capital Inicial:

"O pior que pode acontecer a um artista mediano é crer que não tem mais o que provar. (...) O resultado é um jingle rock de lugares comuns e arranjos esquemáticos para rádios e profundo como pires. Por mais adolescente que seu público tenha se tornado após o Acústico MTV, o Capital não tem por que cantar 'A Vida é Minha (Eu faço o que eu quiser)'"

No Metacritic.com eu vou direto pro pé da página. O péssimo filme Eragon (ainda não vi), do New York Post, é descrito assim, pelo New York Post:

"When the studio tells us that parental guidance is suggested, does it occur to them that they should have taken their own advice?"

O velho Rubens Ewald Filho, que tem como maior traço de estilo fazer longos parênteses, desmancha o superestimado Maria Antonieta em seu site:

"Ou seja, Sofia ao afirmar que o filme faz um paralelo com a futilidade da juventude moderna parece estar falando de si própria, já que foi incapaz de pintar um retrato mais concreto da época, da sociedade, de uma época tão importante (afinal surgia a Revolução Francesa e com o ela os direitos dos Cidadãos). Nem mesmo de mulher, ou ser humano. Ao enfatizar a banalidade, fez um filme mortalmente tolinho. Que é perfeito ao retratar os doces e os rituais do Palácio, que parece um desfile bem efeito de escola de samba (já que como num desfile por vezes fica ate difícil entender quem entra, quem sai e que papel tal pessoa teve na historia da França)."

Há, é claro, a história de que os críticos são artistas fracassados. Mas quem não é artista fracassado, ora?

terça-feira, março 27, 2007

De professores et salários

Ano passado escrevi pra Super sobre as "Idéias Perigosas" de alguns cientistas. Hipóteses que, se não interpretadas da maneira correta pela sociedade, poderiam trazer conseqüências ruins. O Gilberto Dimenstein, hoje, na Folha, traz uma idéia perigosa, que eu já desconfiava. Acompanhe:

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Acaba de sair um levantamento realizado por pesquisadores da USP e da FGV revelando que, ao contrário do que se imagina, um professor de escola pública tem um rendimento maior do que o da rede privada. Ocorre que, na média, os alunos de escolas particulares se saem bem melhor. Tal informação corre o risco de gerar injustiças contra os professores da rede pública.

Certamente, as escolas particulares são mais exigentes com seus professores, proibindo falta e exigindo melhor desempenho; afinal, elas perderiam mensalidades. Seria ótimo que esse nível de cobrança atingisse toda a rede pública. O problema é mais profundo.

Por serem, em geral, mais pobres, os alunos da rede pública têm menor bagagem cultural, os pais envolvem-se menos na aprendizagem dos filhos, as condições físicas da escola apresentam deficiências crônicas, a saúde dos estudantes é mais comprometida. A jornada escolar costuma ser maior nas instituições privadas, onde uma parcela dos estudantes desfruta de atividades extracurriculares, além de aulas particulares. Natural que, nessas condições, haja mesmo diferença nas notas. Lembre-se que, para padrões internacionais, as escolas privadas são ruins.

Mas o que resulta disso é a seguinte conclusão: apenas subir o salário do professor, principal demanda dos sindicatos, não adianta para melhorar a educação pública.

sábado, março 24, 2007

Melhor introdução de todos os tempos

Créditos para o Matheus, que mandou o link dessa abertura de "Family Guy" (Família da Pesada, que passa em algum horário da Fox). Junto de Borat e Away de Petrópolis, das coisas mais engraçadas que vi nos últimos tempos. Tem tudo, uma referência a "Corra que a Polícai vem aí", Doom, Star Wars, e ainda tira uma onda com Simpsons. Isso pra não falar do stand-up comedy do Bin Laden, de início. Vale o investimento de 4 minutos de seu tempo.



As a sidenote, Family Guy ainda fica um pouco atrás de Simpsons e American Dad no meu conceito, mas A Famíliad a Pesada é, de longe, o menos politicamente correto deles. Vou baixar alguns episódios.

terça-feira, março 20, 2007

Filho de Cuarón

Este blog ta cinema demais, ok, mas fiquei com vontade de escrever sobre um filme que deve estar chegando às locadoras em breve, e foi muito pouco falado no cinema: Filhos da Esperança (Children of Men). Mostrei para algumas pessoas queridas (Roberta, minha amiga achou “ok”, meu pai não gostou, “muito barulhento”, e a Giselle achou MUITO ruim. What the fuck is wrong with these people?

Mas sério: talvez este filme caia na minha lista dos “gostei muito, mas não recomendo pra todo mundo”. Como Borat e A Rainha, pra ficar em exemplos recentes. Dito isso, acho que foi um dos 10 melhores filmes de 2006 (O Metacritic diz que foi o 6º).

Para quem não ouviu falar nada sobre: em um futuro próximo (20 anos pra frente), o mundo está há 18 anos com um surto de infertilidade. Não há mais crianças nascendo. Nunca fica muito claro por quê, mas isso é menos importante. O interessante é que a Inglaterra é o único país que consegue se fechar (é possível até) e vive num estado ultra-vigilante, anti-imigrantes. A destopia, como alguns chamam, é muito bem pensada. Eles partem de um princípio curioso: “se ninguém vai nascer, não vou ter descendentes, não vai sobrar nada em 100 anos, posso fazer qualquer coisa”. O mundo vira uma anarquia absoluta.

Esse roteiro de ficção científica tem meia dúzia de surpresas interessantes até a primeira metade do filme. Depois ele fica razoavelmente previsível, por virar um filme de ação, basicamente. Mas é uma ação de primeiríssima linha, méritos totais para a direção de Alfonso Cuarón. Algumas cenas duram uns 15 minutos,muito tensas. Um pouco como o estilo do Fernando Meirelles, Cuarón gosta do estilo “espectador-testemunha”, de câmera na mão, que segue o protagonista e poucas vezes “olha para trás”.

Então por que não gostam as pessoas do filme? Uma “protagonista” tem um papel meio artificialmente diminuído, ele é muito “cansativo” na segunda metade e o final é razoavelmente previsível. Faltam diálogos interessantes, talvez. Mas acho que tudo isso podem ser coisas boas também. A saída da protagonista é um choque, a idéia é que a parte de ação seja asfixiante, para que o final seja redentor, e os diálogos são menos importantes que as situações, os silêncios que sugerem o conflito.

Diria que hoje mais metade dos meus diretores favoritos são latinos: Cuarón, Iñarritú e Guillermo Del Toro, do México, e Fernando Meirelles, do Brasil. Não acho que nenhum deles tenha um olhar muito “regional”, com cores locais. Mas definitivamente é um olhar mais interessante, original, de se ver o cinema.

domingo, março 18, 2007

Apocalypto Now

Ontem assisti Apocalypto, mais recente exercício de sadomasoquismo gráfico do Mel Gibson. E hoje, sedento como vampiro, coloquei o Diamante de Sangue no DVD.
Apocalypto é até um bom filme de ação, cheio de clichês, é verdade. É uma perseguição incessante, com alguns momentos legais, Duro de Matar-style. Mas as soluções para as mortes dos vilões são meio “Premonição”, e acaba ficando engraçado, em determinada hora. Achei até que apareceria uma Arara assassina no final, já que estavam se esgotando as opções de fauna do mal. Como colocou a crítica americana Claudia Pug, que eu vi lá no Metacritic:

“The movie is so impressionistic, it obfuscates any sense of history. We expect at least a hint at the causes of the Mayan Empire's demise, but instead we get Mesoamerican Rambo.”

Diamante de Sangue já é bem mais interessante, ainda que não seja nada cinco estrelas. O melhor do filme é, de longe, a dupla principal, Leo Di Caprio e o africano Djimon Hounsou. Este, aliás, mais que Alan Arkin mereceria o Oscar de coadjuvante (que nem foi indicado, por sinal). É também um filme de ação, mas tem um romance ali melhor colocado, um final que, de positivo é não tão óbvio, mas traz o problemático “O homem branco se redime dos pecados contra os negros”. Há algumas boas cenas e os diálogos são mais interessantes que os simples “os brancos nos exploram até hoje”. É claro que há a “mensagem”, uma forçação para que ela seja compreendida, mas é bem menos superficial que eu imaginava.

E era nesse ponto que queria chegar. Nos dois filmes, há uma maior maturidade em relação à história, que larga, aos poucos, o maniqueísmo, ainda que isso faça um filme enfrentar o politicamente correto. Apocalypto é desses que bate no mito do “bom selvagem”. Espanhóis mataram os índios americanos, sim, mas antes os nativos mais poderosos já haviam exterminado e escravizado populações inteiras. Sempre foi assim na história, o mais forte domina, é difícil falar de “vítimas”. É claro que há passagens “más”, sem nenhum motivo mais aparente, como os alemães na segunda guerra ou os Hutus na África, mais recentemente. No caso Apocalypto, não digo que os espanhóis estivessem “no direito”, algo assim. Mas esse forçado sentimento de culpa que alguns movimentos proto-sociais tentam colocar nos colonizadores eu começo a achar meio forçado. History repeats. Os mais fortes tecnologicamente sempre prevalecem, e antigamente o método de fazer valer a dominação era na porrada. Sad but true, get over it.

Aliás, Diamante de Sangue pega o recorte da exploração dos recursos naturais (marfim, ouro, diamante, petróleo) para explicar a miséria. Jardineiro Fiel fala da indústria farmacêutica, Hotel Ruanda dos conflitos étnicos... O pior é que há milhões de ângulos para explicar a miséria na África e é muito difícil ver saída, mesmo a longo prazo. Acabar com o Aquecimento Global é “peanuts” para a raça humana. Quero ver dar um jeito naquele continente todo. Eu não consigo fazer muito, a não ser chorar com os filmes. Pathetic, I have to admit.

sexta-feira, março 09, 2007

Onde estão nossas jovens cantoras?

Vem com este título a coluna do Thiago Ney de hoje, na Ilustrada. Eu sempre disse isso, ou na verdade sempre quis dizer e nunca arranjei o tom ou a análise correta. O colunista da Folha diz:

"Aqui, nossas jovens cantoras estão mais preocupadas em ser reconhecidas pelo alcance da voz; em fazer parte do grupo de Elis Regina, Gal Costa, Maria Bethânia e etc. (...) Independentemente da 'qualidade artística' que possuam, elas (Roberta Sá, Luiza Possi, Maria Rita, Céu...) parecem viver num mundo idílico, todo florido, ilibado, onde não há conflitos, dúvidas, falta de grana, empregos miseráveis... Letras que traduzam o dia-a-dia? Música pop? Esqueça."

É isso. Ele diz que essas cantoras não aparecem na Ilustrada porque "são velhas". Como muuuita coisa na música brasileira e no cinema também, né mesmo? Das brasileiras a única que eu presto atenção, e gosto (apesar de ter enjoado poquito) é a Cibelle, que me parece ser a mais "atualizada" delas. Acompanho desde que ela era uma voz nas músicas do finado Suba, e acho que ela só deu mais certo um pouco porque lançou o primeiro disco em Londres. Me chame de colonizado. Aliás, ontem o Vítor disse que iria pra Paulista levar um cartaz "Bush, me leva!". Gostei da idéia.

Ah, e recomendo a coluna do Thiago Ney, que mais ou menos tapa a lacuna deixada pela saída do Lúcio Ribeiro da Folha. Acho o Lúcio bastante importante e tal, mas enquanto este é bem oba-oba, o Thiago faz algumas análises sobre o cenário pop, o que é legal também para alimentar conversas de bar.

segunda-feira, março 05, 2007

Ah! Regininha!

De tempos em tempos eu me apaixono por alguma voz feminina. Algumas são casos rápidos e fugazes (Britney, Nelly Furtado), paixões fulminantes (Amy Winehouse, Camille) outras são namoros firmes (Feist, Sia Furler, Cibelle), além, é claro, de casamentos na enésima boda (Cat Power, Billie Holliday, Björk). Note que são relacionamentos abertos, ok? Elas não me impedem de ver outras meninas.

A nova paixão obsessiva (meu Last.fm aponta 20 audições da mesma música em dois dias) é Regina Spektor, a bela russo-americana. Ela já faz algum sucesso por aí, vai tocar no Coachella em abril e o quarto disco dela, o recentíssimo Begin to Hope, é o primeiro a ser lançado por uma major. E foi o que fez o nome dela aparecer nos jornais, com críticas bastante favoráveis.

Ela tem uma produção bem minimalista, mas bem cuidada, estilo dos últimos trabalhos da Cat Power. Mas o trabalho é mais diversificado nos climas, e mais jazzy. O vocal dela é melancolicamente mais alinhado aos anos 30, pós-depressão, por vezes sussurado. O timbre é algo entre a Feist e Madeleine Peyroux, cool.

O disco é daqueles bons do início ao fim, com alguns momentos memoráveis. Better, logo no início é das melhores, upbeat e Lady, a penúltima, é dessas que eu deixo no repeat. É meio inexplicável. Na verdade eu que não tenho o talento de dizer porque a música é boa e absolutamente nova e velha, como se ela cantasse à frente de uma banda de jazz tocada por fantasmas. A PitchFork sabe explicar melhor: “On “Lady”, a paean to Billie Holiday, Spektor duets with a mournful jazz band that cuts in and out abruptly like a staticky transmission from the past”.

É fácil achar em .torrent, mas de qualquer forma aposto um dedo meu (o anular esquerdo, subutilizado) que ele vai ser lançado aqui no Bananão antes de julho, acompanhado de uma capa empolgada na Ilustrada. Vá lá ouvir.

domingo, março 04, 2007

Até a pé

É o seguinte: se você gosta minimamente de futebol, precisa ver isso aqui:



Eu achava, na minha mente vascaína, que o jogo mais emocionante da história havia sido do meu Vasco 4x3 no Palmeiras, final da Mercosul, 3 gols do Romário. Provavelmente ele foi o mais FODA, mas o mais dramático, com contornos cinematográficos, foi o do link aí, a vitória do Grêmio sobre o Náutico na final da Série B de 2005. É arrepiante mesmo. Se você se interessou, tem um filme bem legal sobre, "Inacreditável: a batalha dos Aflitos". Conheci uma menina que veio do Sul (gostaram da citação?), a Jackie, gente finíssima como todas as gremistas, que me emprestou o DVD. Assiti hoje, e é realmente inacreditável.

Aliás, até os meus 16 anos, tinha um vizinho um pouco mais velho, gente finíssima, que ia muito na minha casa e vice-versa (geek, viciado em computadores e tal). Ele era gremista, família que ia na Estância Gaúcha, aquela coisa toda. Por muito tempo o Grêmio virou meu segundo time, o Vasco também foi o dele. Na época que existiam apenas dois times no Brasil (Palmeiras e Grêmio), torci a valer, vi a final do brasileirão de 96 na casa dele (com a família dele, o cara foi ver a final, obviamente), na época que a Placar tinha um cantinho especial para a "piada do Jardel do mês". Bons tempos.

E o hino do Grêmio, hein? Parece que foi feito por algum aluno da 4ª série de uma escola pública de Bento Gonçalves. Mas é mais catchy que qualquer música da Britney.

quinta-feira, março 01, 2007

Purrinha x pôquer x Bovespa

Como disse o Clóvis Rossi hoje, na Folha:

"Você pode escolher a explicação que você preferir para o abalo da terça-feira nas Bolsas do planeta. A grande maioria delas tem até algum fundamento. Mas a explicação de fundo, o que está por trás de tudo, é o cassino em que se transformou o capitalismo nesta era de predomíno avassalador da finança sobre a produção."

Sério, não há qualquer explicação lógica para a queda das bolsas no mundo. A única lógica é do "efeito dominó": Brasil caiu porque Frankfurt caiu, Londres e a China. Mesmo as causas da queda na China são um tanto quanto particulares e só afetam os investidores chineses sobre empresas da China. E no Brasil? Nada muda no governo mas o risco-país sobe 10% em um dia. Genial, não?

Meu irmão e outras pessoas se divertem em ações na bolsa, mas acho que jogar poker online é mais garantido, há mais lógica. Acho que nunca ganharia dinheiro. Pra mim, por exemplo, QUALQUER empresa exploradora de petróleo deveria estar com os papés em desvalorização, visto que todo mundo agora quer ser mais "verde", e no médio prazo a humanidade quer substituir o petróleo por qualquer outra coisa. Mesmo assim, as ações da Petrobras são os papéis com retorno mais garantido do mundo. Vai entender.