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Blog de um jornalista viciado em música e com paixões variáveis. Pinceladas de cinema, futebol e São Paulo podem aparecer sem aviso.

terça-feira, fevereiro 05, 2008

Juno e o amor pós-moderno

Eu vi Juno. Se você não viu, veja. É engraçado, pra começar: cada linha de diálogo que sai da boca da maravilhosa e übercool Ellen Page parece ter sido escrito por um “all-star team” de roteiristas de sitcom, que entraram em greve depois, por estafa. É assim, como dizem os americanos, “quick-witted”.


Ainda não vi os outros concorrentes, mas Juno é um merecedor de Oscars, o “Pequena Miss Sunshine” do ano. Além de ser engraçado e ter uns twists legais na trama, a trilha-sonora é maravilhosa. Ressuscitaram Moldy Peaches, uma dupla fofa, assim como o Belle & Sebastian na melhor forma, que aparece lá com “Expectations”. Na mesma linha há a desconhecida Kimya Dawson, doce, e o bom e velho Kinks. E Cat Power no finalzinho é de cortar o coração. Se você está minimamente apaixonado, aquele suspiro de “o amor é lindo” é inevitável.


E, como eu falei do “Knocked Up”, Juno traz uns recortes interessantes sobre o nosso tempo. Pode-se dizer, como já foi dito por ocasião do Ligeiramente Grávidos, que os meninos são bobões que não querem entrar na vida adulta (parcialmente verdade) e que as mulheres assumem as coisas sérias mais cedo. E que essa era de distrações infinitas, videogame barato para os homens e oportunidades de trabalho abundantes para as mulheres está tornando os relacionamentos difíceis. Seeeerá? É o que estão dizendo, como essa mulher aqui.


Mas eu acho que há um outro ponto que Juno traz, que as pessoas não percebem: não há problemas grandes o suficiente para a juventude de hoje. Uma gravidez aos 16 anos poderia definir (ou acabar) a vida de uma menina anos atrás. Não hoje. Acidentes, doenças, tudo isso eram coisas definidoras. Hoje me parece que tudo é contornável. Talvez porque a juventude hoje (eu me incluo nela, ok?) não faça planos rígidos o suficiente, o que é bom. Hoje perder o emprego é algo absolutamente normal. Antes era o fim do mundo, fim de um roteiro. Hoje os jovens mudam de trabalho e até de área de atuação mil vezes antes de chegar aos 30. E isso é genial. Life is richer, if you ask me.


E eu tenho uma megateoria sobre o amor pós-moderno. Acho que é mais fácil achar o amor da sua vida hoje do que em qualquer outra era. A idéia não é minha, é parcialmente da Helen Fisher, tenho de admitir. Mas tem a ver com a Cauda Longa e os nossos tempos de transparência radical corporativa (funciona para negócios, mas para sua vida também: tudo que você gosta está no Orkut, resumidamente falando). Explico: se nossos pais se apaixonavam antes porque se achavam bonitos, ou só engraçados, sei lá, hoje é fácil achar alguma pessoa que goste especificamente da mesma cena daquele mesmo filme que você achou que só você e a platéia de Sundance haviam visto. As conexões são mais fortes. É muito mais fácil agradar o outro, não há um desejo especial que três cliques na Amazon.com ou um pulo na Casa Santa Luzia não resolvam. É claro que pode ser uma ilusão, aquela paixão simultânea por uma banda islandesa obscura pode eclipsar problemas de caráter no início, que podem ser fatais depois na relação. Mas fazem uma relação ser definitivamente diferente. Fundamentalmente diferente? Talvez não. Mas diferente nevertheless.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Pedro Burgos,

Que raro ouvir a sua teoria sobre a facilidade de encontrar um amor com mais facilidade. Talvez isso aconteça porque as distâncias do mundo diminuiram e as pessoas se encontram com mais facilidade, mas acho que o amor da sua vida não é necessariamente a pessoa que gosta estritamente das coisas mais detalhadas que a gente. Como é que isso cria conexões mais fortes? E onde é que fica a questão da pele, o cheiro, a afinidade intrinseca?Esses que gostam das mesmas maluquices que a gente são, na minha visão, os amigos. O amor tem outras coisas, tem a tal afinidade, a sintonia e acho que se constroi na simples disposição de construir algo em comum. Não sei, as teorias são muitas e na pratica nenhuma delas funciona. So não acho que o amor pode ser simples enquanto o mundo se torna cada vez mais complexo. Acho que as coisas andam juntas e são diretamente proporcionais.
Mas bom saber que você continua um eterno apaixonado. é isso o que percebi de seu texto e da sua percepção do mundo. Sera que você é um Poliano? Não li as coisas sobre o filme, porque estão muito muito longe da minha realidade hoje, tenho pouca paciência, mas gostei do final da sua fala. Um beijo!

7:43 AM  
Anonymous Anônimo said...

não, o amor não é NADA fácil. E todos esses argumentos podem ser razões para torná-lo ainda mais incrívelmente complicado...

3:26 AM  

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