Take me Somewhere nice

Blog de um jornalista viciado em música e com paixões variáveis. Pinceladas de cinema, futebol e São Paulo podem aparecer sem aviso.

quinta-feira, março 20, 2008

Da estupidez humana

Guerras, fundamentalismo religioso, estupro, cirurgia plástica para colocar 500 ml de silicone nos seios... Isso são exemplos clássicos, clichê quando o assunto é estupidez humana. Mas há exemplos mais banais, menos grandiosos, mas igualmente demonstrativos da capacidade humana de executar coisas absolutamente sem sentido, que apenas fazem mal.

Falo das viagens de avião.

Especificamente, da hora do desembarque. Quando apaga-se a luz de "aperte os cintos", todo mundo levanta e pega as bagagens de mão, no "compartimento superior", invariavelmente acertando a cabeça de uma ou outra pessoa, já que o espaço no corredor é bastante finito. As pessoas que sentam nas janelas ficam meio curvadas, com a cabeça baixa, razoavelmente de pé. E ficam lá esperando no mínimo 5 minutos até que as portas de fato se abram e todos possam andar. O que passa na cabeça dessas pessoas, sério? Qual é a graça de ficar de pé? Eu sei que as cadeiras de avião não são confortáveis, mas não se justifica. Pra que fazer fila se não importa a "ordem de chegada" e todos vão obviamente pro mesmo lugar? Isso porque depois de sair do avião ainda há aquela espera normal até sua mala aparecer na esteira, então, WHAT'S THE FUCKING POINT? Precisa haver urgentemente uma campanha para esclarecer essas pessoas que elas não estão economizando tempo, ao contrário do que imaginam. E todas parecem estressadas, mon dieu. Take it slow, brother.

terça-feira, março 11, 2008

Obama nas alturas


Política! Eu já falei pra um milhão de pessoas o quanto eu sou empolgado com a candidatura do Obama. Não pelo fato de ele ser (possivelmente) o primeiro presidente negro, um jovem, um puta orador e tal. Mas pelo fato de ele não se encaixar facilmente em nenhuma definição ideológica. O mundo inteiro precisa parar de separar as pessoas em caixinhas - como nos anos 80, onde você gostava da música-moda do momento ou era "alternativo". No discurso aí em cima Obama fala que não há estados "vermelhos", que há gays republicanos, patriotas contra aguerra no Iraque e tudo isso. Ele quer dar uma noção de unidade ao povo, que falta no EUA e falta um bocado aqui também. Mas lá essa polarização é mais cruel, como nota o sempre excelente Sérgio Dávila no blog dele (melhor fonte brasileira para acompanhar as eleições americanas). Copio aqui, mas vale visitá-lo.

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O ano é dos independentes

O tom cinza nunca foi o forte dos norte-americanos.

O povo daqui vê branco ou preto, sim, sim, não, não. Você toma o seu café com ou sem açúcar, dirige um carro ecologicamente correto ou um trambolhão bebedor de gasolina, gosta de filme de ação ou cinema "de arte". Os cruzamentos são exceção. Em cinco minutos de conversa numa festa, o cantador já sabe se vale a pena levar a cantada adiante. Um conhecido confessou certa vez que, apenas pelo código de área do telefone da pessoa, ele decidia se dava prosseguimento ao papo ou não.

É esse povo que vota em republicano ou em democrata. Escrever que são dois os partidos majoritários nos EUA é ser modesto: são os dois partidos, ponto. Há 435 membros da Câmara Baixa do Congresso, hoje divididos em 231 democratas e 198 republicanos (os seis que faltam para fechar a conta são postos vagos por morte ou renúncia); dos cem senadores, 49 são da oposição, 49 da situação e dois independentes se alinham com os democratas na maioria das votações.

Não são representados comunistas, socialistas, verdes, constitucionalistas, apesar de todos esses partidos existirem. Há democratas, que são em geral de centro, e republicanos, que são em geral de direita. Quando você completa 18 anos e decide que quer tirar o equivalente local ao título de eleitor -o voto não é obrigatório-, deve declarar se é republicano, democrata ou independente. A qualificação constará de sua identificação eleitoral: Fulano de Tal, democrata. Fulana de Tal, republicana.

São exceções os que se declaram "não-declarados" ou de alguma minoria, como "verde". É o equivalente político da conversa na festa: nos primeiros minutos de sua idade adulta, você já sai com a carteirinha de como vai ser o resto de sua vida. Se um "conservador", como é chamada a direita aqui, ou um "liberal", como é chamado o menos conservador. Isso vai orientar suas amizades, seu namoro, possivelmente seu emprego, as roupas que veste, o carro que dirige, o clube que freqüenta.

O problema é que a vida não é bipartidária.

Quando John McCain obtém uma vantagem apertada entre o mar de postulantes republicanos, e o partido o escolhe quase com vergonha, a culpa é do sistema bipartidário. Houvesse mais agremiações, o "maverick" não seria da situação. Quando Barack Obama e Hillary Clinton lutam delegado a delegado em eleições primárias que estão rachando o partido democrata ao meio, a culpa é do bipartidarismo. Houvesse mais opções, o relutante democrata nunca seria da mesma bancada da democrata de raiz.

Mas as coisas começam a mudar.

Desde as eleições presidenciais de 2000, cresce o número de pessoas que não se identificam totalmente nem com um lado nem com o outro do espectro político. O bloco dos independentes, à deriva no mar eleitoral, deixa-se levar por candidatos e programas, dependendo do momento histórico. Eles já somam 30% do total, segundo alguns cálculos, e são o rosto da transformação pela qual passa o país.

Numa eleição de Barack Obama contra um republicano "puro", esse grupo fecharia com o senador negro. Fosse John McCain contra um democrata "quatrocentão", escolheriam o senador pelo Arizona. Acontece que, visto daqui, desse primeiro domingo de março, o mais provável é que a disputa final seja entre Obama e McCain. Ganhará quem mostrar aos independentes que continua o mais independente.

Será o primeiro presidente cinza da história do país.