Take me Somewhere nice

Blog de um jornalista viciado em música e com paixões variáveis. Pinceladas de cinema, futebol e São Paulo podem aparecer sem aviso.

segunda-feira, junho 23, 2008

No It's Not


People are tricky, you can't afford to show
Anything risky, anything they don't know
The moment you try, well, kiss it goodbye


Acho que 2007 foi o ano que deixei de acreditar em Deus. Achei, de um dia para o outro, que seria uma incoerência eu continuar falando “se Deus quiser” e achar genial o que o Richard Dawkins escrevia. Sempre achei que tinha controle absoluto sobre minha vida, o que eu sou é fruto dos meus genes e minhas experiências e o que acontecia de diferente demais, causado por algum fator externo era, oras, fruto do acaso. Na verdade eu comecei a aceitar melhor o acaso depois de ler Black Swan, talvez o livro que mais tenha mudado minha percepção de mundo. Nassim Nicholas Taleb diz basicamente que nós temos “mania de explicação”: procuramos explicar de alguma maneira tudo que acontece com a gente. Um relacionamento ruim atrás do outro? Você fez alguma coisa para “atrair” essa situação; Uma demissão inesperada? Destino – vai surgir algo melhor. Um romance que tinha tudo para dar certo mas acabou bizarramente? Signos incompatíveis.

Por outro lado, eu tenho mania de explicação. Para mim as decisões das pessoas têm de seguir alguma lógica. “Deu a louca nele e ele decidiu fazer isso”. Mentira. Não existe. “Eu te amo sim, muito, você é o cara da minha vida, mas nossa relação não vai dar certo”. Hein? Não é possível, deve ter, sei lá, uma terceira pessoa envolvida. E como não vai dar certo? Não dá pra tentar? Sim, fizemos bobagens no passado, mas por que preferir acreditar que vamos simplesmente repetir e não melhorar, já que o ingrediente fundamental e raro está lá, o amor?

Mas o pior é que existem pessoas que agem de maneira realmente irracional. Ou irracional dentro da minha lógica de vida. São pessoas que querem menos, muito menos, por que o mais tem risco. É claro que o medo pode ser justificado por traumas, experiências ruins – Nelson Rodrigues dizia que o segundo casamento era o triunfo da esperança sobre a experiência. Mas eu também não dou a mínima pra Freud, Jung, Nélson Rodrigues e seqüelas de bullying. Superamos os traumas, crescemos. Ou deveríamos.

Mas sempre esperamos demais das pessoas. E vemos o mundo sob nosso prisma. E isso provavelmente só dificulta a vida. Aparentemente eu gosto de DRs, mas na verdade eu quero uma vida cada vez mais simples. Quero mais ação e menos explicação. Para tudo, das políticas do governo ao sexo.

Ano passado eu desisti de entender o funcionamento do mundo obsessivamente. NN Taleb disse pra mim que às vezes o barril do petróleo pode subir mais 5 dólares amanhã porque um xeique dos Emirados Árabes acordou de mal com uma das mulheres – mas os analistas sairão apressados para dar algum motivo mais bonito, tipo a tensão na fronteira de Israel. Bom, então eu decidi me concentrar mais em fazer a minha parte para mudar a realidade, ou me adequar a ela, em vez de arranjar explicação.

E agora eu acho que vou fazer isso em relação às pessoas. Eu também não faço sentido às vezes, vai. Por que eu deixo escapar as pessoas maravilhosas que me fazem bem ou fico com a cabeça no que é ruim demais? Mas foram 3 situações recentes, seguidas, onde eu não consegui entender o que os outros escolheram, quando o caminho parecia óbvio. – minha mãe me perguntou “o que eu fazia para atrair tudo isso”. Nada, mãe. Me apaixonei demais, talvez. Mas talvez eu procure entender menos todo mundo, não vou me preocupar em decifrá-las mais. Mas será que por isso eu vou me envolver menos, me apaixonar menos pelas pessoas? Pelas mulheres ou grandes amigos?

Meia dúzia de pessoas vão entender essa heartbroken confession. Mas eu escrevi isso aqui pra mim, e pra você. Talvez eu não queira mais entender todo mundo, mas eu quero que você me conheça.

5 Comments:

Anonymous Anônimo said...

E se esse você sou eu, quero dizer que eu também quero te conhecer, e também quero que você me conheça.

10:32 PM  
Anonymous Anônimo said...

Num momento de desviar minha cabeça de meu trabalho, caí no seu blog.
Escrevi um comentário enorme com o bomberdeio de pensamentos que seu texto sucitou em mim, mas não deu certo, ele não entrou...
Tentarei escrever de novo

7:13 PM  
Anonymous Anônimo said...

Pena, dessa vez não será tão impulsivo... Mas vou tentar reproduzir o que havia escrito.

Outro dia eu estava sentada num café esperando uma pessoa chegar e havia dois caras conversando na mesa ao lado. Não pude conter minha curiosidade. Falavam sobre psicanálise. Um explicando ao outro as várias categorias de comportamento humano da teoria psicanalítica. Todas, TODAS, se baseavam na auto-proteção. Pq as pessoas se protegem eu não sei, talvez por medo, não quis perguntar. Mas isso é uma explicação, o medo. Eu pessoalmente não consigo evitar procurar e encontar explicações pra tudo. Ossos do ofício talvez. Da mesma forma que aqueles psicanalistas, em todo comportamento buscando uma explicação, alguma teoria que se encaixe, alguma teoria nova pra encaixar alguém. Parece que a gente faz isso desde sempre, desde que a sociedade existe, sempre alguém tentando explicar algo.
E o medo me parece uma explicação plausível para muita coisa. Mas o que com certeza não existe é sentido. Em quase nada. Nunca consegui encontrar. “Eu te amo sim, muito, você é o cara da minha vida, mas nossa relação não vai dar certo”. Não faz o menor sentido. Assim como eu precisar de dinheiro para estudar algo para conseguir um emprego, sendo que preciso do emprego para estudar, tb não faz sentido (um exemplo meio tosco, mas acho que serve). Na primeira posso dizer que foi medo, ou a terceira pessoa. Na segunda posso dizer que é o capitalismo (?). Não sei, mas acredito que sempre tem uma explicação. Mas sentido... o mundo, as pessoas, a sociedade, nada faz sentido.
Todas as pessoas eu acho têm uma lógica, elas só não gostam de dizer às outras qual é. Deixam o outro no escuro, com mágoas e confusões, em vez de explicar pq é assim. Pq sentido não vai fazer mesmo...
Se apaixonar demais? Melhor que ficar no vazio da não-paixão.
Acreditando em Deus ou não, acreditando em reencarnação ou não, o fato é que temos essa vida pra viver e só. Pra mim, melhor então vivê-la de peito aberto, com todas as dores e alegrias do que recluso na própria proteção. Dói do mesmo jeito, protegido por seus medos ou não. Eu não entendo o medo das pessoas, pra mim não faz sentido. Mas pra elas talvez faça, não sei. O medo pode ser explicado. Mas justificado? Como vc justifica alguém não querer enfrentar os próprios medos? Por medo? Medo de viver, de sentir, seja o que for, medo da dor, do desconhecido? Dói se proteger. Dói viver sem proteção. Mas segundo os psicanalistas daquela mesa, viver sem proteção é tb uma forma de se proteger. Será? De quê? Sei lá, tb não acho que a psicanálise seja a resposta, se é que existe alguma.
As explicações talvez sejam apenas uma maneira de não enlouquecer no vazio.
Signos incompatíveis, filosofia chinesa, candomblé... explicações.
Num dia em que tudo deu errado pra mim eu disse a uma mulher que talvez eu devesse ir num terreiro me benzer (é com 'z'?). Talvez essa explicação resolvesse meu problema se eu decidisse acreditar nela. A mulher me disse que eu deveria apenas fazer o sinal da cruz, isso resolveria. Importa o santo?
Esse texto já ficou completamente diferente do outro, não lembro mais tudo o que pensei, foi tão abrupto e impulsivo. Mas talvez a única coisa que faça algum sentido de viver seja o amor. E é dele que as pessoas mais têm medo. Não sei como entender, não dá pra explicar. Não faz sentido.
Talvez eu não tenha feito sentido algum com o que vc escreveu. Não te conheço, não conheço sua vida. Mas isso é um pouquinho da minha. A lógica que pelo menos por enquanto faz algum sentido pra mim.

7:46 PM  
Blogger Jackie B. said...

the greatest thing you'll ever learn is just to love and be love in return

10:01 PM  
Anonymous Lucas said...

E ainda tem gente que diz que a internet afasta as pessoas...

8:16 AM  

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