Take me Somewhere nice

Blog de um jornalista viciado em música e com paixões variáveis. Pinceladas de cinema, futebol e São Paulo podem aparecer sem aviso.

terça-feira, março 20, 2007

Filho de Cuarón

Este blog ta cinema demais, ok, mas fiquei com vontade de escrever sobre um filme que deve estar chegando às locadoras em breve, e foi muito pouco falado no cinema: Filhos da Esperança (Children of Men). Mostrei para algumas pessoas queridas (Roberta, minha amiga achou “ok”, meu pai não gostou, “muito barulhento”, e a Giselle achou MUITO ruim. What the fuck is wrong with these people?

Mas sério: talvez este filme caia na minha lista dos “gostei muito, mas não recomendo pra todo mundo”. Como Borat e A Rainha, pra ficar em exemplos recentes. Dito isso, acho que foi um dos 10 melhores filmes de 2006 (O Metacritic diz que foi o 6º).

Para quem não ouviu falar nada sobre: em um futuro próximo (20 anos pra frente), o mundo está há 18 anos com um surto de infertilidade. Não há mais crianças nascendo. Nunca fica muito claro por quê, mas isso é menos importante. O interessante é que a Inglaterra é o único país que consegue se fechar (é possível até) e vive num estado ultra-vigilante, anti-imigrantes. A destopia, como alguns chamam, é muito bem pensada. Eles partem de um princípio curioso: “se ninguém vai nascer, não vou ter descendentes, não vai sobrar nada em 100 anos, posso fazer qualquer coisa”. O mundo vira uma anarquia absoluta.

Esse roteiro de ficção científica tem meia dúzia de surpresas interessantes até a primeira metade do filme. Depois ele fica razoavelmente previsível, por virar um filme de ação, basicamente. Mas é uma ação de primeiríssima linha, méritos totais para a direção de Alfonso Cuarón. Algumas cenas duram uns 15 minutos,muito tensas. Um pouco como o estilo do Fernando Meirelles, Cuarón gosta do estilo “espectador-testemunha”, de câmera na mão, que segue o protagonista e poucas vezes “olha para trás”.

Então por que não gostam as pessoas do filme? Uma “protagonista” tem um papel meio artificialmente diminuído, ele é muito “cansativo” na segunda metade e o final é razoavelmente previsível. Faltam diálogos interessantes, talvez. Mas acho que tudo isso podem ser coisas boas também. A saída da protagonista é um choque, a idéia é que a parte de ação seja asfixiante, para que o final seja redentor, e os diálogos são menos importantes que as situações, os silêncios que sugerem o conflito.

Diria que hoje mais metade dos meus diretores favoritos são latinos: Cuarón, Iñarritú e Guillermo Del Toro, do México, e Fernando Meirelles, do Brasil. Não acho que nenhum deles tenha um olhar muito “regional”, com cores locais. Mas definitivamente é um olhar mais interessante, original, de se ver o cinema.