Take me Somewhere nice

Blog de um jornalista viciado em música e com paixões variáveis. Pinceladas de cinema, futebol e São Paulo podem aparecer sem aviso.

segunda-feira, junho 23, 2008

No It's Not


People are tricky, you can't afford to show
Anything risky, anything they don't know
The moment you try, well, kiss it goodbye


Acho que 2007 foi o ano que deixei de acreditar em Deus. Achei, de um dia para o outro, que seria uma incoerência eu continuar falando “se Deus quiser” e achar genial o que o Richard Dawkins escrevia. Sempre achei que tinha controle absoluto sobre minha vida, o que eu sou é fruto dos meus genes e minhas experiências e o que acontecia de diferente demais, causado por algum fator externo era, oras, fruto do acaso. Na verdade eu comecei a aceitar melhor o acaso depois de ler Black Swan, talvez o livro que mais tenha mudado minha percepção de mundo. Nassim Nicholas Taleb diz basicamente que nós temos “mania de explicação”: procuramos explicar de alguma maneira tudo que acontece com a gente. Um relacionamento ruim atrás do outro? Você fez alguma coisa para “atrair” essa situação; Uma demissão inesperada? Destino – vai surgir algo melhor. Um romance que tinha tudo para dar certo mas acabou bizarramente? Signos incompatíveis.

Por outro lado, eu tenho mania de explicação. Para mim as decisões das pessoas têm de seguir alguma lógica. “Deu a louca nele e ele decidiu fazer isso”. Mentira. Não existe. “Eu te amo sim, muito, você é o cara da minha vida, mas nossa relação não vai dar certo”. Hein? Não é possível, deve ter, sei lá, uma terceira pessoa envolvida. E como não vai dar certo? Não dá pra tentar? Sim, fizemos bobagens no passado, mas por que preferir acreditar que vamos simplesmente repetir e não melhorar, já que o ingrediente fundamental e raro está lá, o amor?

Mas o pior é que existem pessoas que agem de maneira realmente irracional. Ou irracional dentro da minha lógica de vida. São pessoas que querem menos, muito menos, por que o mais tem risco. É claro que o medo pode ser justificado por traumas, experiências ruins – Nelson Rodrigues dizia que o segundo casamento era o triunfo da esperança sobre a experiência. Mas eu também não dou a mínima pra Freud, Jung, Nélson Rodrigues e seqüelas de bullying. Superamos os traumas, crescemos. Ou deveríamos.

Mas sempre esperamos demais das pessoas. E vemos o mundo sob nosso prisma. E isso provavelmente só dificulta a vida. Aparentemente eu gosto de DRs, mas na verdade eu quero uma vida cada vez mais simples. Quero mais ação e menos explicação. Para tudo, das políticas do governo ao sexo.

Ano passado eu desisti de entender o funcionamento do mundo obsessivamente. NN Taleb disse pra mim que às vezes o barril do petróleo pode subir mais 5 dólares amanhã porque um xeique dos Emirados Árabes acordou de mal com uma das mulheres – mas os analistas sairão apressados para dar algum motivo mais bonito, tipo a tensão na fronteira de Israel. Bom, então eu decidi me concentrar mais em fazer a minha parte para mudar a realidade, ou me adequar a ela, em vez de arranjar explicação.

E agora eu acho que vou fazer isso em relação às pessoas. Eu também não faço sentido às vezes, vai. Por que eu deixo escapar as pessoas maravilhosas que me fazem bem ou fico com a cabeça no que é ruim demais? Mas foram 3 situações recentes, seguidas, onde eu não consegui entender o que os outros escolheram, quando o caminho parecia óbvio. – minha mãe me perguntou “o que eu fazia para atrair tudo isso”. Nada, mãe. Me apaixonei demais, talvez. Mas talvez eu procure entender menos todo mundo, não vou me preocupar em decifrá-las mais. Mas será que por isso eu vou me envolver menos, me apaixonar menos pelas pessoas? Pelas mulheres ou grandes amigos?

Meia dúzia de pessoas vão entender essa heartbroken confession. Mas eu escrevi isso aqui pra mim, e pra você. Talvez eu não queira mais entender todo mundo, mas eu quero que você me conheça.

terça-feira, abril 29, 2008

O e-mail que eu (ainda) não mandei para o povo de Brasília

Queridíssimos,

Long time no see, ou sem notícias detalhadas há tempos. Pois então, continuo em São Paulo e como comprei um apê aqui no fim do ano passado acho que não volto tão cedo – algumas passagens relâmpagos virão. Este mês fez exatamente um ano que eu larguei o Sebrae e passei a viver só de freelas, e a coisa tem dado bizarramente certo. Mais recentemente diminuí bem o leque de coisas que faço, não preciso me matar pra pegar uma pagininha aqui ou ali, dá pra escrever sobre o que eu gosto na Vip (essa de abril tem 4 minhas, sobre videogame, gastronomia e música), Superinteressante (agora só coisas maiores, to há 1 mês e meio pesquisando sobre discos-voadores para uma matéria de 10 páginas) e a Mundo Estranho, onde o povo agora resolveu me dar muitas pautas. Participo de um programa de rádio aqui da Eldorado (Pesquisa Brasil, dá pra me ouvir aqui) comentando sobre genômica – tenho de assistir algumas palestras fenomenais, com prêmios Nobel e tal, e contar pras pessoas sobre as idéias dos caras. Fantástico! Meu blog tem ido bem na audiência e em abril mudou o nome para “Próxima Fase”, nada mais apropriado. Ali escrevo absolutamente o que quiser sobre videogames, e com alguma repercussão – a Electronic Arts me procurou espontaneamente para me dar jogos para testar (Viva o jabá!), pude entrevistar executivo da Sony com a credencial de “blogueiro”. Hoje dei uma entrevista por telefone pra Radio France, fui apresentado como “jornalista especialista em videogames”, fiquei 5 minutos comentando sobre o lançamento de GTA IV. É o sonho nerd realizado, amiguinhos, não fui indicado por nenhum amigo, mas pela busca no Google!

Foi mal a autopromoção mega. É que realmente tô muito feliz aqui com a vida profissional (teve o Prêmio Abril de Jornalismo, não ganhei, mas a indicação já foi bastantão e a festa maravilhosa), e queria compartilhar com as pessoas daí. Não que eu ganhe muito dinheiro, bem possivelmente estaria melhor financeiramente em Brasília. Mas dinheiro não é tudo, mas é 100%, como diria Falcão. Aliás, foi engraçado que um calouro do Curso Abril tava conversando um dia comigo e perguntou: “mas realmente dá pra viver bem de freelas?”. Eu falei “depende do que você chama de viver bem, depende do valor que você dá ao dinheiro”. Ele riu, acho que ali teve certeza que não, não dava. Mas o lance é o seguinte: essa minha felicidade tem de entrar na equação de salário. Eu ganho um X variável por mês + adicional de trabalhar a hora que quiser + adicional de poder ir ao cinema à tarde + bonificação por jogar videogames for a living + D.A.S. de poder escrever sobre coisas que gosto, do jeito que acho fera. Toda essa última parte da equação é, digamos, não-monetária. Mas, como diz o Chris Anderson, só agora as pessoas estão notando que um trabalho não deve ser remunerado de maneira apenas monetária. Veja o caso da Wikipédia, ou o Banco do Tempo que minha irmã descobriu em Barcelona.

Então, sei lá, fiquei ensaiando esse meu e-mail muitas vezes – e já falei ele quase integralmente para algumas pessoas – desde as últimas vezes que estive em Brasília. Vocês dão licença pra uma sessão observações-aleatórias-auto-ajuda-pedante? O pedante é por vocês, a mensagem é com carinho.

As pessoas que recebem este e-mail têm, na média, a minha idade: 27. E com 27 você ta mais perto dos 30, aos olhos dos nossos pais (que à essa época já deveriam estar casados e com filhos) já passou da hora de você ter um emprego estável e no mínimo pensar em constituir família. E toda vez que eu volto à minha cidade (não é Rio Branco, para ficar claro) eu tenho a impressão que as pessoas estão repetindo esse script, deixando sonhos pra lá. Quando ainda tava no JB, no longínquo 2003/4 o papo dominante era o tanto que neguinho tava cansado de ralação, como vida de jornalista era difícil e não pagava bem. Mas ainda havia ali um monte de “o que eu quero ser quando crescer”. Os 2 ou 3 anos seguintes (com alguma rebarba agora) envolveram concursos, até a lei 8.666 passou por mesa de bar. É óbvio, o teto para jornalista em Brasília é limitado e as melhores condições de emprego, financeiramente falando, estavam (estão) no funcionalismo.

Não julgo ninguém, pelamorrrrr...

Mas aí eu volto no fim do ano passado, este ano. Boa parte do amigos entrou em concursos ou está circulando pelo governo de alguma maneira. O papo agora é juntar dinheiro, comprar um lote (normalmente sem sair da casa dos pais, o que é curioso), ou um apê em Águas Claras – quem tem muito cacife, Noroeste.

Mas já? Não to dizendo que o serviço público não pode ser gratificante e interessante (Gustavo, estou olhando pra você), ou que ter a oportunidade de comprar uma casa, especialmente com alguém que você quer ficar um bom tempo da vida (FelipeLu, alô) não seja bem legal e desejável. Cada um se satisfaz com o que quiser, da forma que quiser. Aliás, essa idéia quase hedonista de satisfação absoluta no trabalho é bem recente, e ser solteiro nunca foi uma possibilidade viável de felicidade para a maioria da população (eu que o diga). Mas ah, já ta na hora da gente decidir absolutamente as nossas vidas e colocá-las no piloto automático?

Não sei. Isso não envolve só saber, ou achar, que sabe, o que quer da sua vida pro resto da vida. Isso envolve um lance que eu não sei se é Brasília ou aplicável a cidades pequenas, ou uma soma das duas coisas. Envolve planos muito fixos e poucas saídas de curso.

Lembro que quando eu juntei aquela galera lá em casa pra jogar Rock Band, o Igor falou que achou fera e tal, “mas não tenho dinheiro pra isso”. Com um carro zero, comprado com o dinheiro dele, estacionado na frente da casa. Como não tem? Eu não tenho! É tudo uma questão de prioridades. Não estou dizendo que videogames devam ser a prioridade (o próprio Igor comprou um Xbox meses depois), mas putz, eu vejo às vezes o povo se matando pra pagar prestações de casa, ou de carro, ou juntando dinheiro para sei lá o quê. É bem verdade que eu tenho a minha casa, mas passei a maior parte do tempo aqui em São Paulo alugando um apê, e o que pagava lá é quase o condomínio aqui. Enfim, eu também estou muito longe de ser um exemplo de responsabilidade financeira, mas feito esse parênteses todo, não me sobra muito dinheiro mas vou ao Starbucks toda semana, como em algum restaurante fera, experimento alguma receita diferente no Mercadão e compro presente pros amigos e jogos pra mim. Tudo isso somado dá menos que a parcela de um carro ou uma casa. Quando eu tiver dinheiro eu compro alguma coisa maior, não quero sacrificar minha vida no auge, aos 27, para o “futuro”. Que diabos é o futuro senão o presente daqui a pouco?

Agora vocês devem estar esperando a hora que eu falo que São Paulo é bem melhor para fazer tudo isso, que é a cidade dos sonhos – todo mundo sabe o que me fez me apaixonar por esse lugar. Mas não, uma vida cheia de possibilidades depende muito menos do lugar que da pessoa. Foi muito interessante vir pra cá para na volta ver a cidade as pessoas com um olhar de estrangeiro que é fundamental. Acho que viver em outra cidade por um tempo é quase essencial para uma melhor compreensão das coisas.
Mas então, tudo isso é pra dizer que às vezes eu sinto uma certa preocupação com minhas pessoas amadas em Brasília. A maioria leva a vida a sério demais e esquecem sonhos de anos atrás achando que já estão ficando velhas. A vida não pode ser só trabalhar ou estudar pro cursinho durante o ano para ir ao Rio no Revéillon, ou ao Nordeste no Carnaval. Largar tudo e ir pra Índia estudar Ioga ou ir à África fazer trabalho voluntário pode ser uma possibilidade, tirar duas semanas pra fazer porra nenhuma ou um mochilão na América do Sul é outra. Ter um emprego fixo e ultra certinho não quer dizer que você não pode pesquisar independentemente uma pauta que dá na sua telha (eu vendo a matéria aqui, se alguém quiser), estudar neurociência ou manter um blog bem feito sobre o que quer que seja. Há mil formas de fazer a reputação e se realizar. Há cada vez mais, na verdade. Eu gosto dos meus amigos por cada uma de suas peculiaridades, e temo quando eles começam a ficar parecidos. Todo esse discurso obviamente não serve para todos, é fácil perceber.

Mas acho que nos cobramos demais muito cedo e esquecemos de coisas menores, mas mais fundamentais. E, bom que se diga, normalmente as coisas fundamentais envolvem pessoas fundamentais. Eu tenho a sorte de ter uma segunda família aqui, pessoas que eu amo e cuidam umas das outras, e uma espécie de soulmate pra qualquer hora, filme ou piada. Há pessoas novas que chegam e dão um ar novo, e renovam a minha empolgação pela metrópole. Mas temos de cativá-las.

Prometo que vou editar isso antes de mandar, sei que tá grande (você que chegou aqui certamente pulou algumas partes). It's a work in progress.

Em resumo: Life is short, seize the day.

quinta-feira, março 20, 2008

Da estupidez humana

Guerras, fundamentalismo religioso, estupro, cirurgia plástica para colocar 500 ml de silicone nos seios... Isso são exemplos clássicos, clichê quando o assunto é estupidez humana. Mas há exemplos mais banais, menos grandiosos, mas igualmente demonstrativos da capacidade humana de executar coisas absolutamente sem sentido, que apenas fazem mal.

Falo das viagens de avião.

Especificamente, da hora do desembarque. Quando apaga-se a luz de "aperte os cintos", todo mundo levanta e pega as bagagens de mão, no "compartimento superior", invariavelmente acertando a cabeça de uma ou outra pessoa, já que o espaço no corredor é bastante finito. As pessoas que sentam nas janelas ficam meio curvadas, com a cabeça baixa, razoavelmente de pé. E ficam lá esperando no mínimo 5 minutos até que as portas de fato se abram e todos possam andar. O que passa na cabeça dessas pessoas, sério? Qual é a graça de ficar de pé? Eu sei que as cadeiras de avião não são confortáveis, mas não se justifica. Pra que fazer fila se não importa a "ordem de chegada" e todos vão obviamente pro mesmo lugar? Isso porque depois de sair do avião ainda há aquela espera normal até sua mala aparecer na esteira, então, WHAT'S THE FUCKING POINT? Precisa haver urgentemente uma campanha para esclarecer essas pessoas que elas não estão economizando tempo, ao contrário do que imaginam. E todas parecem estressadas, mon dieu. Take it slow, brother.

terça-feira, março 11, 2008

Obama nas alturas


Política! Eu já falei pra um milhão de pessoas o quanto eu sou empolgado com a candidatura do Obama. Não pelo fato de ele ser (possivelmente) o primeiro presidente negro, um jovem, um puta orador e tal. Mas pelo fato de ele não se encaixar facilmente em nenhuma definição ideológica. O mundo inteiro precisa parar de separar as pessoas em caixinhas - como nos anos 80, onde você gostava da música-moda do momento ou era "alternativo". No discurso aí em cima Obama fala que não há estados "vermelhos", que há gays republicanos, patriotas contra aguerra no Iraque e tudo isso. Ele quer dar uma noção de unidade ao povo, que falta no EUA e falta um bocado aqui também. Mas lá essa polarização é mais cruel, como nota o sempre excelente Sérgio Dávila no blog dele (melhor fonte brasileira para acompanhar as eleições americanas). Copio aqui, mas vale visitá-lo.

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O ano é dos independentes

O tom cinza nunca foi o forte dos norte-americanos.

O povo daqui vê branco ou preto, sim, sim, não, não. Você toma o seu café com ou sem açúcar, dirige um carro ecologicamente correto ou um trambolhão bebedor de gasolina, gosta de filme de ação ou cinema "de arte". Os cruzamentos são exceção. Em cinco minutos de conversa numa festa, o cantador já sabe se vale a pena levar a cantada adiante. Um conhecido confessou certa vez que, apenas pelo código de área do telefone da pessoa, ele decidia se dava prosseguimento ao papo ou não.

É esse povo que vota em republicano ou em democrata. Escrever que são dois os partidos majoritários nos EUA é ser modesto: são os dois partidos, ponto. Há 435 membros da Câmara Baixa do Congresso, hoje divididos em 231 democratas e 198 republicanos (os seis que faltam para fechar a conta são postos vagos por morte ou renúncia); dos cem senadores, 49 são da oposição, 49 da situação e dois independentes se alinham com os democratas na maioria das votações.

Não são representados comunistas, socialistas, verdes, constitucionalistas, apesar de todos esses partidos existirem. Há democratas, que são em geral de centro, e republicanos, que são em geral de direita. Quando você completa 18 anos e decide que quer tirar o equivalente local ao título de eleitor -o voto não é obrigatório-, deve declarar se é republicano, democrata ou independente. A qualificação constará de sua identificação eleitoral: Fulano de Tal, democrata. Fulana de Tal, republicana.

São exceções os que se declaram "não-declarados" ou de alguma minoria, como "verde". É o equivalente político da conversa na festa: nos primeiros minutos de sua idade adulta, você já sai com a carteirinha de como vai ser o resto de sua vida. Se um "conservador", como é chamada a direita aqui, ou um "liberal", como é chamado o menos conservador. Isso vai orientar suas amizades, seu namoro, possivelmente seu emprego, as roupas que veste, o carro que dirige, o clube que freqüenta.

O problema é que a vida não é bipartidária.

Quando John McCain obtém uma vantagem apertada entre o mar de postulantes republicanos, e o partido o escolhe quase com vergonha, a culpa é do sistema bipartidário. Houvesse mais agremiações, o "maverick" não seria da situação. Quando Barack Obama e Hillary Clinton lutam delegado a delegado em eleições primárias que estão rachando o partido democrata ao meio, a culpa é do bipartidarismo. Houvesse mais opções, o relutante democrata nunca seria da mesma bancada da democrata de raiz.

Mas as coisas começam a mudar.

Desde as eleições presidenciais de 2000, cresce o número de pessoas que não se identificam totalmente nem com um lado nem com o outro do espectro político. O bloco dos independentes, à deriva no mar eleitoral, deixa-se levar por candidatos e programas, dependendo do momento histórico. Eles já somam 30% do total, segundo alguns cálculos, e são o rosto da transformação pela qual passa o país.

Numa eleição de Barack Obama contra um republicano "puro", esse grupo fecharia com o senador negro. Fosse John McCain contra um democrata "quatrocentão", escolheriam o senador pelo Arizona. Acontece que, visto daqui, desse primeiro domingo de março, o mais provável é que a disputa final seja entre Obama e McCain. Ganhará quem mostrar aos independentes que continua o mais independente.

Será o primeiro presidente cinza da história do país.

terça-feira, fevereiro 05, 2008

Juno e o amor pós-moderno

Eu vi Juno. Se você não viu, veja. É engraçado, pra começar: cada linha de diálogo que sai da boca da maravilhosa e übercool Ellen Page parece ter sido escrito por um “all-star team” de roteiristas de sitcom, que entraram em greve depois, por estafa. É assim, como dizem os americanos, “quick-witted”.


Ainda não vi os outros concorrentes, mas Juno é um merecedor de Oscars, o “Pequena Miss Sunshine” do ano. Além de ser engraçado e ter uns twists legais na trama, a trilha-sonora é maravilhosa. Ressuscitaram Moldy Peaches, uma dupla fofa, assim como o Belle & Sebastian na melhor forma, que aparece lá com “Expectations”. Na mesma linha há a desconhecida Kimya Dawson, doce, e o bom e velho Kinks. E Cat Power no finalzinho é de cortar o coração. Se você está minimamente apaixonado, aquele suspiro de “o amor é lindo” é inevitável.


E, como eu falei do “Knocked Up”, Juno traz uns recortes interessantes sobre o nosso tempo. Pode-se dizer, como já foi dito por ocasião do Ligeiramente Grávidos, que os meninos são bobões que não querem entrar na vida adulta (parcialmente verdade) e que as mulheres assumem as coisas sérias mais cedo. E que essa era de distrações infinitas, videogame barato para os homens e oportunidades de trabalho abundantes para as mulheres está tornando os relacionamentos difíceis. Seeeerá? É o que estão dizendo, como essa mulher aqui.


Mas eu acho que há um outro ponto que Juno traz, que as pessoas não percebem: não há problemas grandes o suficiente para a juventude de hoje. Uma gravidez aos 16 anos poderia definir (ou acabar) a vida de uma menina anos atrás. Não hoje. Acidentes, doenças, tudo isso eram coisas definidoras. Hoje me parece que tudo é contornável. Talvez porque a juventude hoje (eu me incluo nela, ok?) não faça planos rígidos o suficiente, o que é bom. Hoje perder o emprego é algo absolutamente normal. Antes era o fim do mundo, fim de um roteiro. Hoje os jovens mudam de trabalho e até de área de atuação mil vezes antes de chegar aos 30. E isso é genial. Life is richer, if you ask me.


E eu tenho uma megateoria sobre o amor pós-moderno. Acho que é mais fácil achar o amor da sua vida hoje do que em qualquer outra era. A idéia não é minha, é parcialmente da Helen Fisher, tenho de admitir. Mas tem a ver com a Cauda Longa e os nossos tempos de transparência radical corporativa (funciona para negócios, mas para sua vida também: tudo que você gosta está no Orkut, resumidamente falando). Explico: se nossos pais se apaixonavam antes porque se achavam bonitos, ou só engraçados, sei lá, hoje é fácil achar alguma pessoa que goste especificamente da mesma cena daquele mesmo filme que você achou que só você e a platéia de Sundance haviam visto. As conexões são mais fortes. É muito mais fácil agradar o outro, não há um desejo especial que três cliques na Amazon.com ou um pulo na Casa Santa Luzia não resolvam. É claro que pode ser uma ilusão, aquela paixão simultânea por uma banda islandesa obscura pode eclipsar problemas de caráter no início, que podem ser fatais depois na relação. Mas fazem uma relação ser definitivamente diferente. Fundamentalmente diferente? Talvez não. Mas diferente nevertheless.

terça-feira, outubro 02, 2007

Arruda DEMITE o gerúndio. Gênio.

"Decreto nº 28.314, de 28 de setembro de 2007.

Demite o gerúndio do Distrito Federal, e dá outras providências.

O governador do Distrito Federal, no uso das atribuições que lhe confere o artigo
100, incisos VII e XXVI, da Lei Orgânica do Distrito Federal, DECRETA:

Art. 1° - Fica demitido o Gerúndio de todos os órgãos do Governo do Distrito Federal.
Art. 2° - Fica proibido a partir desta data o uso do gerúndio para desculpa de INEFICIÊNCIA.
Art. 3° - Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 4º - Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 28 de setembro de 2007.

119º da República e 48º de Brasília
JOSÉ ROBERTO ARRUDA"

domingo, setembro 30, 2007

Knocked up - o novo clássico


Assisti ontem Ligeiramente grávidos (“Knocked Up”), a nova comédia do Judd Apatow. Li bem por alto as resenhas por aí (bastante favoráveis por sinal), mas dá pra cravar, fácil, que até agora é o filme do ano. E vou além, esse será um clássico no futuro. Knocked Up é para os anos 00 o que foi o Balconista dos anos 90. Quem olhou um pouco além da superfície do primeiro filme do Kevin Smith viu que pra além da comédia engraçadíssima havia o retrato de uma época – O Balconista mostrava como quem não ia à faculdade era automaticamente um perdedor e como homens e mulheres podem encarar o amor e sexo de maneira absolutamente distintas nesse período de eqüidade de gênero. Filosófico demais? Talvez, mas acho que na visão de pessoas mais comuns, menos cabeça, mais conectadas à realidade que acontecem esses retratos de época.

Em Knocked Up uma mulher inteligente, “auto-suficiente” e centrada na carreira fica grávida de um desses “slackers”, figura gente boa e tal, mas que não quer muita coisa da vida, vive pensando em montar um site mas não tem muitos objetivos a longo prazo. Há diálogos engraçadíssimos daí, mas momentos bastante sérios. E é um fenômeno dos dias de hoje: casais ruindo porque as mulheres são “sérias” e os homens querem manter a qualquer custo a “camaradagem masculina”, ou seja, ter aquele grupinho pra jogar, beber ou qualquer coisa que seja. E há vergonha desses homens em revelar esse lado “infantil”, que contrasta tanto com a seriedade das mulheres. Qualquer homem que vive/viveu um relacionamento recente sabe como é. Tem uma parte no filme, um dos caras que vive mais ou menos essa situação fala “pô, a mulher lá é tão séria, cobra tanto de você, e você é tão legal! Por que ela fica chateada?” E depois de pensar, o cara tem uma epifania. “na verdade ela gosta tanto de mim que me quer por perto o tempo inteiro. E eu a acho chata por isso”. É um problema sem solução, na verdade, mas bem interessante como o filme trata. Genial.