Take me Somewhere nice

Blog de um jornalista viciado em música e com paixões variáveis. Pinceladas de cinema, futebol e São Paulo podem aparecer sem aviso.

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Um rim por um filme bom

Cena 1: Quatro jovens turistas americanos chegam ao aeroporto de Guarulhos ainda assustados. Se tivessem pegado o vôo anterior, seu avião teria batido em outro, perto de São Paulo. Escaparam da morte dessa vez. Sentam no Habib’s para comer uma esfiha e, como em todo lugar remotamente árabe, terroristas conversam sobre planos de explodir aviões (como se estes precisassem da ajuda de bombas no Brasil). Um deles aponta para os americanos e passa o indicador horizontalmente no pescoço. Os jovens nem têm tempo de se assustar. Um macaco pega a mochila de uma das turistas. Ela deixa as coisas com os outros 3 amigos e começa a correr atrás (trilha-sonora: “Mas que nada!”). Um policial de bigodão, que fala espanhol, consegue deter o símio. Mas pede alguns dólares para que a gringa tenha a mochila de volta. Sem entender muito bem a situação, ela é orientada a ir para um salinha no aeroporto para efetuar o pagamento. Lá ela é estuprada por índios, que a esta altura já estão cozinhando seus amigos numa grande panela. Os gritos são inúteis, já que uma escola de samba faz a festa no saguão do aeroporto. Pilotos e policiais caem no samba. A aeromoça tira a roupa e, de biquíni asa-delta, começa a fazer evoluções no salão. Todos se divertem. Menos Robertinho, jogador de futebol dentuço e com uma superaudição, que ouve os pedidos de socorro e com um chute potente consegue abrir a porta onde estão confinados os americanos. Sua pantera rapidamente desarma os índios e...

Acho que Turistas é light, minha versão ia ser bem mais fera. Tudo isso só pra dizer que a gente tem de parar com esse dramalhão de boicote, americanos são idiotas, bla bla bla. Como se uma bomba dessas precisasse de um movimento organizado para fracassar. Quem tivesse vontade de ver o filme, independente da locação, (o grande atrativo: é parecido com “Albergue”, dãããã) é que devia ser boicotado. Fica ligado, que seu fígado vai nessa quando você menos espera.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Goodgeeks

Nos últimos dois anos meu hobby principal tem sido jogar jogos de tabuleiro modernos, como vocês devem saber. Considerando que eu sempre tive de ter um “vício”, de figurinhas a videogames, esse específico traz várias vantagens: pode ser jogado por qualquer um (não precisa de destreza ou outra habilidade específica), é uma coisa mais social, sempre rende conversas sobre assuntos outros, etc etc. Mas um negócio que eu curto bastante no meio são as pessoas envolvidas. Galerinha simpática, bróder, honesta, vida feita, e tudo o mais, que forma efetivamente uma comunidade – quem viaja pra outro estado tem com quem jogar e até onde ficar e por aí vai. Na gringa, como dizem, o site que todo mundo consulta sobre o assunto é o www.boardgamegeek.com BGG para os íntimos). Lá, essa noção de “comunidade” é ainda mais forte.

Esses dias, um cara que perdeu o cunhado na guerra do Iraque recentemente resolveu juntar uns jogos que tinha e fazer um leilão para levantar grana pra irmã e a sobrinha dele. A idéia dele, como postada no site, era fazer um fundo educacional para a criança poder ir pra faculdade. Vários outros usuários do site resolveram doar alguns jogos para o leilão beneficente. E o mais incrível é que as pessoas estão pagando mais de 100 dólares a mais que o valor real do jogo, pra ajudar mesmo.
Coisa parecida aconteceu ano passado, à época do Furacão Katrina. O BGG organizou desde leilões a excursões de voluntários para Nova Orleans à venda simbólica de "geekgold", arrecadando algo perto de um milhão de dólares. Uma loja online dedicou o lucro de um dia de vendas para as vítimas do furacão, e todo mundo foi lá e comprou nesse dia.

É claro que numa sociedade onde sobra dinheiro isso é mais fácil. De qualquer forma, é uma coisa que a gente vê pouco por aqui. Já tive companheiros de videogame, brincamos de “comunidade Xbox” em Brasília. Mas o nível de comunidade do hobby de quem joga tabuleiros é realmente interessante. Viva os boardgamegeeks!

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Laberinto del Fauno

Estréia hoje em todo o Brasil o filme "O Labirinto do Fauno", produção mexicano-espanhola do diretor Guillermo del Toro. Chega com credenciais: seleção oficial de Cannes, indicado mexicano ao Oscar e recepção calorosa na última Mostra de São Paulo (foi o único filme que eu assisti que foi aplaudido). E dos que eu vi na Mostra, foi o mais marcante.

O cenário: Guerra Civil Espanhola. Um general mauzão que foi a uma floresta debelar os últimos focos da resistência. Lá também estão a sua nova esposa e sua filha (da esposa, não do general), uma Alice 2.0. A crueldade da guerra e do vilão e a luta entre os dois lados, com os conflitos morais, são interessantíssimos. Mas o que faz o filme sensacional mesmo é a trama paralela da menina, que acha um mundo fantástico com criaturas exuberantes literalmente no quintal.

Nunca um filme mereceu tanto o adjetivo "onírico". A paleta de cores utilizada, os sons, as formas desses seres - que não têm aquele aspecto inocente e bonzinho - a dúvida sobre o mundo real e o de fantasia... Tudo é fantástico, no sentido mais amplo da palavra. Não falo nada sobre a trama, há muitas surpresas. Algumas cenas e personagens são bem fortes, não recomendaria definitivamente às crianças. Mas o final, redentor é belo (eu chorei, mind you) é tudo que willow, Labirinto e História sem Fim queriam ter sido.

Corra ao cinema.